sábado, 31 de outubro de 2015

Coisa-feita (1979)


 Num encruzo 
A coisa-feita
Quem espreita
É coisa-má

Numa noite
Vem Zumbi
Zumbe o vento
No telhado

Sopra um medo
Carregado
Como estórias
De fantasmas

E eu que não me assusto nunca
Levo um susto desgraçado
Quando vejo o tal Saci-Pererê


Saci-Pererê

Notas
Coisa-feita: Bruxaria, "trabalho" deixado pelas bruxas em encruzilhadas.
Coisa-má: o diabo, coisa-ruim.

sábado, 17 de outubro de 2015

São José da Terra Firme

          Já falei, neste blog, sobre tantas cidades, deixando de lado aquela em que resido desde 1979. O motivo para isso é que "eu a conheço", esquecendo-me que, para quem mora em outros lugares, ela é uma cidade turística que merece ser divulgada e visitada.
          Frequentemente, quando me perguntam onde moro, dizem-me que não conhecem a cidade. Falo, então:
          - Você conhece Florianópolis?
          - Sim, é claro!
          - Pois passou por dentro de São José. Vindo do norte, do sul ou do oeste é caminho obrigatório para se chegar à capital...
          - É mesmo? Eu não sabia.
          Pois bem. A cidade de São José é um município limítrofe a Florianópolis, fundada em 1750, estando entre as maiores economias e mais populosas cidades do Estado de Santa Catarina. O centro histórico, com seu casario bem preservado, é digno de apreciação, tornando-se em excelente passeio.
        Também neste mesmo centro histórico, mais precisamente na praça da matriz, realiza-se todo segundo domingo de cada mês (exceto quando a chuva não permite), a Feira da Freguesia, que tem por objetivo divulgar a cidade tornando-a mais atrativa turisticamente.
          A feira, que dura o dia inteiro - no verão se estende até às 10:00 hs da noite - busca mostrar produtos da cultura açoriana, como: Olaria, rendas, artesanatos em tecidos, madeira e outros, gastronomia e apresentações teatrais, de danças diversas, boi-de-mamão, pau-de fita e ainda shows com bandas locais. A organização sempre à cargo da Fundação Municipal de Cultura e Turismo de São José, que faz um ótimo trabalho.
          Nesse dia todos os locais de visita permanecem abertos, com entrada gratuita. Entre eles, temos: A Igreja Matriz, a Casa da Cultura, Biblioteca Municipal, o Museu Histórico de São José e outros pontos turísticos, inclusive com visitas guiadas.
          Um bom programa de domingo, sem dúvida! 

 Igreja Matriz 

 Museu Histórico de São José

 Teatro Municipal

Feira da Freguesia
(Banca Trabalhando com Arte)

sábado, 3 de outubro de 2015

Meus pais
Por: Hugo Lino dos Santos

            Meu pai, Manoel dos Santos, nasceu em Indaial em 25 de fevereiro de 1896. Aprendeu o ofício de charuteiro – tendo trabalhado 3 anos, apenas em troca de comida . Trabalhou em Blumenau por vários anos. Esteve em Timbó e Jaraguá do Sul à procura de emprego. Finalmente, no início da década de 1920, mudou-se para Rio do Sul.
              Minha mãe, Aurélia Bona, nasceu em 28 de março de 1902, em Arrozeira, hoje, município de Rio dos Cedros. Órfã de mãe, por volta dos 5 anos de idade, passou a morar definitivamente com os avós Trentini, em Cuaricana, hoje, município de Ascurra. Aos 18 ou 19 anos – quando a avó, Catarina Trentini, faleceu – foi morar em Blumenau, com os tios Domingos Largura e Maria Trentini. Lá permaneceu por um ano, quando houve a mudança para Rio do Sul.
            Ali, meus pais se casaram, em 06 de fevereiro de 1926 e residiram até 1927. Ambos trabalhavam na fábrica de vassouras e chapéus de palha, de propriedade do tio Largura. Após o fechamento da fábrica, sem trabalho, compraram uma colônia, fiado, em Barra do Trombudo. Ali eu nasci em 21 de dezembro de 1931.
          Não foram bem sucedidos na agricultura e, uns 3 ou 4 anos depois, venderam a propriedade e compraram uma pequena “chácara” no Km 4 da estrada de Taió. Meu pai voltou a trabalhar como empregado, durante algum tempo, na firma “Carlos Schroeder”, em Rio do Sul, a cerca de 10 km de casa. Saia de madrugada, antes das cinco horas da manhã de 2ª feira e voltava no sábado à noite. Fazia um trecho à pé e outro de trem.
           Minha mãe cuidava da roça, das crianças, das vacas... São desse tempo minhas primeiras lembranças. Algumas boas, outras nem tanto. Em 1938 ou 39, a febre Paratifoide vitimou alguns de nossos vizinhos, inclusive meu padrinho, João Buzzi. Logo após veio a peste do gado. Meus pais tínham três vacas, uma novilha e uma bezerrinha. As primeiras morreram, a novilha virou charque no dia em que amanheceu “triste”, sobrando apenas a bezerra Chitinha. A vida deles foi toda marcada pela miséria, mas nessa época, tenho certeza, passamos fome.
            Nova mudança. Outra colônia, bem próxima, do outro lado do rio. Uma casa muito pequena, caindo aos pedaços. Mamãe, com os filhos mais velhos, ia para a roça; papai, em períodos alternados voltava a trabalhar como operário. Em 1940, fui para a escola. Mais tarde, meus pais, com a ajuda dos filhos mais crescidos, conseguiram construir uma casa, de madeira.
            Em 1953 mudaram para uma chácara em Laurentino. A família começa a se dispersar. Eu já estava em Mondaí desde 1952, após ter dado baixa do exército, em Lages. Os filhos mais velhos casaram. Nova mudança, dessa vez para Lontras, onde papai e mamãe adquiriram uma meia colônia, muito acidentada, junto à pequena cidade.
          Quando não puderam mais trabalhar, transferiram-se para um lote urbano, no bairro Cantagalo, em Rio do Sul. Para esse fim, contaram com a ajuda de meus irmãos mais velhos.
         Mamãe ainda pode criar alguns porcos e galinhas, mas não vacas (sua grande paixão). O terreno tinha um quintal com algumas árvores frutíferas. Esta última mudança ocorreu em 1971, aonde meu pai veio a falecer, em 2 de outubro de 1983, aos 87 anos de idade. Este foi o ano da grande enchente, a maior ocorrida em Rio do Sul até aquela data. A casa deles também foi atingida com um metro e meio de água dentro de casa. Papai já estava muito doente, por isso trouxe os dois para nossa casa, em Florianópolis, durante uns vinte dias – o meu irmão João os conduziu de volta. Na vinda, pernoitamos em Indaial, na casa da tia Otília e ele pode, ainda, conversar com os irmãos João e Ervino. Presenciei abraços e lágrimas (de despedida).
          No dia seguinte tive de interromper uma, agora, animada conversa entre eles e os separei para sempre. Passamos pelo centro de Blumenau, por insistência da mamãe. Passamos também pela cidade de Brusque, por causa dos estragos nas estradas.
          Após o falecimento de papai, mamãe passou a morar em uma casa alugada, também em Rio do Sul. A nossa irmã Iolanda continuou cuidando dela como já vinha fazendo com os dois, há muito tempo. Mamãe faleceu em 23 de março de 1989, coincidentemente, também com 87 anos, depois de permanecer acamada durante dois anos, em consequência de AVCs (dois seguidos) que sofreu.
          Ambos estão sepultados no cemitério de Rio do Sul.


Manoel e Aurélia dos Santos - Setembro de 1979