segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Recordando

Lacunas (2000)


Sinto falta de John
De Raul e meus avós
Sinto falta do som
Que havia

Sinto a ausência
De alguém que eu via
Debruçado
E acenava bom-dia

Sinto que o tempo
Escapa
Que a dor ataca
E vejo meu chapéu

Sinto falta de um passado
Recente que insiste
Em ocupar espaços

E por mais que eu queira
Esquecer me invade



Lembranças (2012)


Lembro da terra, escura
Lembro de flores
E abelhas
E rosas, vermelhas

Lembro do buldogue
Latindo sem boca
Por detrás das grades
Da casa velha

Lembro da senhora, de touca
Do xale surrado
Olhando o jardim
E a janela

Ah! aquela janela
Lembro dela, a mais bela
Sorrindo prá mim

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Lembranças

Labirintos (1988)

 

Senti saudades
Então te procurei
Nas ruas, nas casas
Atrás das portas
No galho da mangueira
Dentro do carro
Sob a mesa
No outro lado da vitrine
Nos parques e escolas

Finalmente te encontrei
NUA
Fazendo hidromassagem



Guarde-me (1985)


Quero que me tenhas
Na palma da tua mão
Ou no fundo
Da tua cabeça

Num retrato
Bem ou mal falado
Ou no fundo
Da tua cabeça

Quero que me tenhas
Num momento saboroso
Ou no fundo
Da tua cabeça

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Nova Veneza

Data: 14-09-2013

          A pequena cidade no sul de Santa Catarina, distante cerca de 15 km de Criciúma, de colonização predominantemente italiana, foi fundada em 1891 por imigrantes vênetos e lombardos. Além das lindas paisagens junto à rodovia de acesso, o maior atrativo de Nova Veneza é a gôndola, original, a única na América do Sul, ofertada pela Veneza italiana. Vale uma parada no portal de entrada da cidade, que ostenta o Leão de San Marco no topo, também presente da Veneza européia.

 Casario antigo

 Na gôndola

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Religiosidades

Saecula, saeculorum (2010)

Se os pecados
não prescrevessem
Se os amores
não exaurissem
E se as rosas em março
não fenecessem

Nem as cruzes negras
(ainda)
Existissem...


Vagamente (2002)

Minha religião pareça
Estranha a você
Creio em mim
Creio que eu sou

Um reflexo
Uma lembrança
Um breve lapso
De tempo-espaço
Uma imagem holográfica

Não há lógica
No sorriso
Nem sonho eterno

Creio em mim

domingo, 8 de setembro de 2013

Primaverices

Degradê (2013)

No vôo leve
Em círculos perfeitos
De transparentes tons

Na ausência
Pura e simples de sons
As cores gritam


Primavera (2013)

Sabe, as borboletas?
O que sabem as borboletas?
Sábias borboletas
Voam

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A fuga das cores


Armando era um menino de doze anos, sensível, estudioso e sonhador, mas, às vezes, um pouquinho preguiçoso. Certo dia, sua professora levou para a aula um caleidoscópio de vidro para estudo da luz. Falou sobre a refração da luz, das ondas de luz e das cores.
O caleidoscópio passou de mão em mão até chegar às de Armando, que ficou fascinado ao ver as cores do arco-íris brilhando no aparelho. Passou o resto do dia pensando no que tinha aprendido e dormiu com as lembranças na cabeça.
Ao acordar, na manhã seguinte, notou algo estranho. Quando passou em frente ao aquário, seu peixinho azul e vermelho ficou sem cores. Estava preto, branco e cinza. Mais parecia um rascunho do seu peixinho. Onde quer que fosse tudo ficava sem cor. Tudo ficava em tons de cinza.
Armando estava assustado. Pensou em falar com seus pais, mas eles eram muito ocupados e não teriam tempo para ajudar no seu problema. E um mundo cinza era feio demais. Algo precisava ser feito.
Ele então se lembrou de um velhinho de barbas brancas que morava próximo da sua escola. Seu Joaquim. Algumas pessoas falavam que ele era um bruxo, outras que seria papai-noel.
Armando resolveu procurá-lo e perguntar se poderia ajudá-lo a devolver as cores aos seus donos.
Ao chegar à casa de seu Joaquim, Armando abriu o portão e cruzou um jardim florido, que curiosamente não perdeu suas cores. Parecia que ele estava no lugar certo.
Armando então bateu na porta e surgiu seu Joaquim, as barbas longas mais parecendo algodão, perguntando:
- O que deseja menino?
- Seu Joaquim, eu estou com um problemão e não sei resolver, pode me ajudar?
- Claro, entre e conte prá mim.
Armando entrou e contou com detalhes o que estava acontecendo. Seu Joaquim pensou por um tempo e procurou um livro velho, encadernado em verde-escuro e com letras douradas na capa, que diziam “Cores, sabores e magia”.
Seu Joaquim, colocando os óculos redondos que o deixavam parecido com o mago Merlin do desenho, procurou no índice:
-... Cores fortes... Cores fracas... Achei!... Cores fujonas!
“Quando as cores cansam de ficar no mesmo lugar por muito tempo, procuram alguém que tenha a capacidade de levá-las consigo, como se fosse um imã. Para se restaurar tudo, o imã (normalmente uma criança) é preciso que ela faça o caminho inverso desde o começo do problema, recitando a cada dois minutos – Cores! Voltem para o seu dono.
Seu Joaquim, falando baixinho, como se fosse para ele mesmo, disse:
- É por isso que as cores desbotam, com o tempo... Elas estão fugindo aos poucos.
E fechando o livro, insistiu:
- A cada dois minutos diga a frase!
- Tá bom seu Joaquim, tchau.
Ao sair, fazendo o caminho inverso, Armando pensou:
- Puxa vida, vai dar um trabalhão falar a cada dois minutos “Cores! Voltem para o seu dono”. Só vou falar algumas vezes. Ninguém vai saber... E se eu encurtar o caminho um pouco, chego em casa mais rápido. Vou devolver as cores de maneira mais fácil.
Quando Armando chegou na sua casa estava cansado e foi para seu quarto dormir um pouco. Sentiu fome e voltou para a cozinha. No momento em que passou na frente do aquário viu que o seu peixinho estava amarelo e roxo.
- Ai, ai, ai será que...?
Armando saiu correndo e constatou que a coisa estava feia. Os papagaios do parque estavam cor-de-rosa, as rosas ficaram azuis, o poodle da vizinha estava amarelo com manchas pretas, parecia uma onça-pintada. O pobre cachorrinho olhava para seu corpo e gania, sem entender.
O menino então voltou à casa do seu Joaquim, contou a confusão e este, sorridente, disse:
- Já que você quis fazer mais fácil, agora terá de corrigir o erro repetindo A CADA MINUTO a frase “Cores! Voltem para os seus verdadeiros donos”.
Armando, cabisbaixo, reconheceu que se tivesse seguido as recomendações do seu Joaquim, à risca, já estaria tudo resolvido. Tudo por causa daquela preguicinha que o acometia às vezes...
Agora fez tudo certinho. As cores voltaram para os seus legítimos donos, o poodle da vizinha a latir contente e o seu peixinho azul e vermelho parecia feliz novamente.
Quanto ao Armando, decidiu a partir dali, fazer sempre tudo certo da primeira vez para não precisar trabalhar dobrado, mas de vez em quando, ao passar por algo colorido, olhava para trás, afinal, coisas estranhas acontecem...!